Friday 8 August 2008

Eu sou o Hugo. E venho de uma longa tradição de idiotas carrancudos. Os conjuntos de características que uma vez combinadas geram um idiota, aparentemente são invisíveis no primeiro, no segundo e provavelmente até ao quadragésimo quinto contacto social. Portanto nunca se sabe se está a trabalhar ao lado de um idiota como eu. Ou se caiu no completo abismo e levou um dos meus, ou até mesmo eu quem sabe, para casa para copular.

Eu ao escrever isto assim desta maneira dou a ideia que todos da minha família são uns completos idiotas carrancudos. Mas não são. Só os homens parecem carregar essa comicó-trágica combinação genética.

As mulheres na minha família são um caso muito diferente embora igualmente amaldiçoadas. Não sabemos até hoje quem começou o quê. Se foi de um útero estúpido que fez nascer o primeiro idiota, se foi o primeiro idiota, ou o Alfa-tio (como eu o designei quando penso nesse idiota primeiro que nunca cheguei a conhecer) que nasceu normalíssimo mas que fez qualquer coisa de muito grave (assim de repente vem me á ideia o Adão) e as suas sementes que um dia eram brancas e banais, ficaram negras e carregadas de idiotice. E sendo assim conspurcar uma inocente qualquer coisa com o perverso objectivo de fazer nascer o seu primeiro filho idiota para alimentar uma futura dinastia de idiotas.

Terei forçosamente de regressar às mulheres visto que embora eu esteja a descrever a minha existência idiota, para ser honesto, as únicas pessoas de quem conheço da minha família que mereciam algum tempo de antena, serias as mulheres.
Eu sei que todos nós temos o que merecemos, e por essa linha de pensamento as mulheres da minha família têm o que merecem ou tiveram o que mereciam. Eu digo ‘tiveram’ porque nunca os homens-idiotas da minha família parecem destinados a cumprir qualquer que seja um acordo por eles assinado. E nisto não estarei a exagerar, basta pensar em alguma coisa que pudesse ser quebrado a meio, no inicio ou no fim eles o fizeram e eu obviamente também. Para alem de que os idiotas são incapazes de exagerar. Aliás existe uma tendência natural para diminuir não para aumentar eventos. Portanto tudo o que eu descrever aqui, o senhorzinho ou a senhorazinha faça o favor de aumentar a escala.

As mulheres da minha família vêm o acto de amamentar, educar e possivelmente amar um idiota, como algo que só elas conseguirão fazer. Uma espécie de estigma ou de sindroma de Joana D’arc.

E como qualquer pessoa que realmente acredite nessa forma de psicose, realmente elas assumem essa tarefa. Mas claro primeiro existe todo um processo de ou assumir que deu á luz um idiota, ou que ficou de uma certa maneira amorosamente enganada por um idiota. Eu digo ‘amorosamente enganada’, porque já ouvi esse termo aqui em casa e em várias casas de familiares onde normalmente passo as férias de verão embora não saiba muito bem o que isso quererá dizer, mas que realmente tenho um ideia do que será enganar alguém usando o amor como álibi.

Como reconhecer que deu á luz um idiota?

A não ser que seja fruto de uma união incestuosa não existe grandes probabilidades que tenha dado á luz um idiota. Mas limpo daqui as minhas mãos ao avisar que nós somos muitos, e que desenvolvemos a arte de nos tornar estupidamente invisíveis, como parte do nosso mecanismo de sobrevivência. Ainda hoje se fala de como a minha tia Eduarda que já faleceu engravidou por acidentalmente ter usado o meu tio Joaquim como cadeira depois de ela se ter sentado para calçar as botas de trabalho que usava sempre que ia para o campo ceifar qualquer coisa. Ela nem o conhecia, nem reparou que ele ali estava. Nove meses depois nasceu um idiota de nome José. Se a minha tia Eduarda fosse viva tenho a certeza que ainda hoje amaldiçoava esse dia.

Procriar acidentalmente ou não com um idiota faz em muitos dos casos a mulher sentir-se estúpida uns minutos depois do evento ou catástrofe, dependendo de quem estará a contar a história. Se for o idiota-macho, esse acasalar é um evento digno de ser cantado visto que fechou o círculo e já pode desaparecer em paz. No caso da mulher, esse acontecimento é sem dúvida visto como uma catástrofe que terá de ser registada como quem regista doentes ou mortos numa guerra civil ou peste.

Eu sou o Hugo e eu conheço muitos idiotas.

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