Saturday 12 July 2008

serpentes e escadas

O cancro, do cancro, do cancro.

Amanha por esta hora o cancro lambe-te o corpo.
Dos dedos dos pés até ao meio da tua testa,
preenchendo a tua pele gretada.
O vómito alimenta a esperança de um novo começo.

O cancro vai corroendo lentamente os cantos
do teu quarto, os teus amantes e amigos,
deixando-te a ti para ultimo.

Estás a ficar ansioso e empurras-te para a frente.
Rasgas a boca para conseguir engolir a meia-noite.
O teu corpo, esse reage, e passa a olhar para ti de outra maneira.

Água da torneira não te tira o sabor,
As facas da cozinha migraram lentamente para o teu quarto
E as agulhas deixaram de ser só para costurar.
Os outros deixaram de te fazer sentido.

Andar de mãos dadas também se mostrara ser sempre inútil.
Porque tu acabas sempre por fazer isto sempre sozinho.
Tens um cancro que nunca mais acaba.
E já não há heróis pequeninos nem testemunhas.
E quando cá estavam nunca foram de ter os olhos virados,
- Só para ti.

Raios ultra violentos esguicham de falos
Para a ponta da tua língua.
E tu vais interiorizando o sabor.
Eles são os teus novos amigos
e tu queres ardentemente que eles fiquem
- Até ao fim.

Mas não ficam.
O teu produto interno foi e será sempre bruto.
E magoa-nos a todos.
Mentes e escreves o teu nome em todo o lado,
Culpas-te por nunca teres sabido cativar macacos sofisticados.

O teu corpo está a pensar abandonar-te.
Chamas-lhe de “roedor” e “cobarde” e
Gesticulas, gritas e choras muito como uma má actriz.
Mas não desistes.

Abres as janelas e procuras o teu melhor ângulo,
Os astronautas mudos que vão vindo de carro.
Vão desfilando por cima de ti, como se fosses tapete vermelho
Mas o filme já é velho, e tu já não és “Óscar”,
- Hoje és “Maria”.

Tripas que eles exploram confiantes,
Há já tempo cederam de lugar ao teu coração.
Já ninguém sai contigo como antigamente,
agora passeiam-te de quarto em quarto.

E quando a solidão aperta,
Embebedas-te no teu lubrificante
E imaginas que não estás realmente a lutar sozinho.
O cancro, do cancro, do cancro.

Monday 7 July 2008

mentiroso

tenho lágrimas a acumularem numa cova entre as minhas mamas e tenho os teus soldados a escorrem pelas minhas pernas abaixo.

eu é que sou a porca.

origem

eu sou um homem dentro de um porco dentro de um porco dentro de um porco e a minha carne é a mais tenrinha e rosada de todas.