Wednesday, 23 September 2009

Ate logo

Venho aqui vender-te o meu pesadelo preferido,
antes que ele desapareca.
Ou eu.

O que vier primeiro.

No meu sonho eu nao tenho pressa de chegar a casa
ou a qualquer outro lugar.

Se aparecer e’ porque apareci.

Quando chego a casa
nao me dou ao trabalho de ligar as luzes
por saber tudo de cor.

Antigamente ligava a luz mesmo que nao precisasse.

Dispo o que tenho de despir nesse dia,
e entro em qualquer divisao do apartamento.
A sensacao e sempre a mesma.
Seja ela, o quarto, a sala ou a casa de banho.

No verao faz muito calor
mas eu nao me dou ao trabalho de ligar a ventoinha.
E no inverno faz frio,
mas nao faco nada.

Tolero o que tiver de tolerar,
ou nem chego a dar muito por isso.

A cama fica sempre igual.
Os lencois nunca sao mudados.
Mas o mais estranho e’ que continuo a comprar duas sacadas de comida,
embora deixe sempre estragar metade.

A culpa nao sera’ minha.
Porventura de um vicio,
um vicio que opera debaixo a minha pele.

um maquinismo da lembranca.

Porque realmente eu nao tenho vicio de comer.

Corto as unhas so quando ja me magoam.

No meu sonho nao me interessa muito
onde elas possam cair depois de cortadas.

Ninguem se queixa.
Ninguem as apanha.

ja' o meu semen podia secar.
ou troca-lo por agua.

No meu pesadelo nao serve para nada.

No meu sonho eu posso acordar
virado para cima,
para ela,
para baixo,
para a esquerda ou para a janela.

‘e precisamente tudo igual.

Observo sempre a mesma coisa.

No meu pesadelo nao consigo abrir a boca para dizer 'ate’ logo'.

Venho aqui vender-te o meu pesadelo preferido,
antes que ela desapareca.
Ou eu.

O que vier primeiro.

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